LOCALIZAÇÃO

Rua Francisco Ferreira, 1644 - Vila Nery - São Carlos SP

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

OS INFORTÚNIOS OCULTOS


4. Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos generosos, no sentido de reparar os desastres.


Mas, a par desses desastres gerais, há milharesde desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem.


Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabedescobrir, sem esperar que peçam assistência.


Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida?


Entra numa casa de sórdida aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente.


Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças.


À sua chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos.

E que ela vai acalmar ali todas asdores.

Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem corar.

O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu trabalho prover às necessidades da família.

Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não secará no seio que as amamenta.

Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família.

No canto da rua, uma carruagem a espera,verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem sucessivamente a visita.

Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens.

Terminado o seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia.

Qual o seu nome?

Onde mora?

Ninguém o sabe.

Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação.

A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus, protestantes, todos a bendizem.
Por que tão singelo traje?
Para não insultar a miséria com o seu luxo.
Por que se faz acompanhar da filha?
Para que aprenda como se deve praticar a beneficência.
A mocinha também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando nada tens de teu?
Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu mérito?
Nesse caso, em realidade, serei eu quem faz a caridade; que merecimento terias nisso?

Não é justo.

Quando visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa.

Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.” É assim que aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou.

É espírita ela? Que importa! Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência.
Certo dia, no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a vender trabalhos executados por suas mãos.
Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém."

Falava assim Jesus.
O Evangelho Segundo o Espiritismo - Allan Kardec

Nenhum comentário: