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sexta-feira, 20 de junho de 2008

5. O ESCRAVO FORAGIDO


Noite alta.

Batidas nervosas estremecem a porta do convento, levando Fabiano de Cristo a apressar os passos para abri-La.

- Sinhô, me salve!

Cai no chão um escravo negro.

Fabiano abaixa-se e o recolhe nos braços.

Sente-lhe a febre, no primeiro toque.

O negro, porejando e ardendo em febre, mal consegue falar.Advinha-se um foragido de uma senzala próxima.

- Tenha dó de mim... – suplica exausto.

Nas mãos de Fabiano, que lhe sustentavam naquela hora, a marca do sangue, que vertia das costas lanhadas por alguma chibata impiedosa.

- Acalma-te, filho!

- Tô fugindo!

Não agüento mais. . .

- Estás numa casa de Deus!

Nos olhos do escravo rebrilhavam a humilhação e a súplica.

Ari não existia o mal. Porém somente os traços do sofrimento e da dor profunda.

- Aonde queres ir? - indaga Fabiano.

- Quero... voltar pra minha gente! ele roga, entre lágrimas.

Fabiano, em tom ponderado, considera:

- Todos viemos do Pai Celestial e, onde estivermos, estaremos entre irmãos, filhos do mesmo Criador Divino.

Quem sabe, filho, Deus não te destinou para ajudares a construir um mundo novo, onde se instalará o reino da esperança e do amor?

O escravo o olhou feito de espanto.

- Não te esqueças - prosseguiu amavelmente Fabiano - de que Jesus, para trazer-nos a doutrina da redenção, também se fez escravo dos homens cruéis e escolheu a Cruz do sofrimento, para com seu próprio sangue libertar-nos de nossos pecados.

O escravo arfava já com serenidade.

- Confia no Senhor!

Não fujas de teus encargos, porque o Senhor confia em ti e te ampara.

Sofres, por certo, mas para ti o Senhor abre os braços, dizendo-te:

Bem-aventurado és, tu que choras, porque serás consolado.

- Volto... à senzala?!

- E onde poderias ser mais livre?

Não fujas das obrigações árduas que a vida te oferece a teu próprio benefício.

Nelas terás as tuas realizações espirituais, mesmo que debaixo de uma chuva de lágrimas e humilhações.

Não tens um reino na Terra, mas o terás no céu.

- Mas... e a minha fuga!?

- Intercederei por ti, junto de teu amo.

Direi que te recolhi em febre e quase loucura e te devolvo em boa e nova saúde.

E, quando Fabiano o ergueu do duro chão, já não havia febre e nem revolta... e o lanhado das costas já não vertia sangue, porque já eram cicatrizes de um calvário glorioso.

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